quarta-feira, 27 de maio de 2009

"Duas Irmãs, um Rei" de Philippa Gregory


Ana Bolena, ela guardou uma lata
Na qual toda a sua esperança e sonhos estavam selados.[1]

Thomas Bolena (para Maria): Para ir longe neste mundo, é necessário mais do que beleza e um coração generoso.[2]

Maria Bolena (para Ana): Estais a apontar para alto de mais, Ana… como sempre.2

Podes sorrir quando o teu coração está partido, porque tu és uma mulher.[3]

Rei Henrique VIII (para Ana): Eu pus este país de pernas para o ar por VOSSA causa! 2

A multidão marchando ao som dos tambores
Toda a gente se está a divertir, embalados pela melodia do amor
Feio é o mundo em que vivemos
Se estou certo provem-me que estou errado
Estou deslumbrado, à procura do lugar onde pertencemos.1

“Duas Irmãs, um Rei”, de Philippa Gregory, foi provavelmente das melhores obras que li nos últimos tempos. O primeiro contacto que tomei com o livro, ainda que de forma indirecta, foi em meados de 2007, quando fui informada de que iria estrear um filme relacionado com a história de Ana Bolena, que há algum tempo me vinha a fascinar, pela enorme misticidade que a rodeia. Como amante da História no geral, principalmente no que diz respeito à Idade Média e Moderna, procurei assistir ao filme, mas tal não se proporcionou e, embora o interesse sobre esta trama permanecesse, fui esquecendo a existência de tal obra até que, há alguns meses, me foi oferecido o livro de Philippa Gregory. Embora ignorando a relação entre este e o filme que me fora recomendado, comecei a ler avidamente a obra, tornando-se de tal forma viciante que só parei no final. E, mesmo assim, a história continuou a perseguir-me incessantemente.
Penso que Philippa Gregory conseguiu captar de tal forma a vida na corte inglesa que, mesmo nas páginas iniciais, nos sentimos imersos naquele universo de futilidade, interesses e traições, onde cada gesto, cada olhar, são sinais importantes num mundo onde ninguém é mais do que um mero peão na escalada social até ao trono.
É louvável a forma como a autora consegue prender os leitores à história e manter o suspense, a emoção e, mais que isso, a surpresa perante os acontecimentos, quando, no fundo, tudo aquilo que relata são factos conhecidos e imutáveis. Agradou-me imenso a opção de abordar o lado mais “negro” das várias versões da História, estando patente a exaustiva pesquisa que executou sobre o tema. Desta forma, não temos só um retrato fiel da sociedade britânica da época, mas também um romance de intriga, paixão e traição, como todos os bons livros devem ser.
A intrigante relação entre as duas irmãs, a frágil e sensível Maria e a decidida Ana, é talvez o aspecto com mais destaque em toda a obra e, mesmo no fim, penso que é aquilo que permanece na nossa memória. A evolução psicológica das personagens é evidente e nunca falha em surpreender até o leitor mais atento, sendo simplesmente notável a forma como Philippa Gregory consegue transpor tais sentimentos em palavras. Os próprios diálogos, extremamente fidedignos, completam na perfeição a atmosfera criada ao longo de toda a obra, dividida de tal forma que torna ainda mais interessante acompanhar a sucessão das estações e a evolução que, ao mesmo tempo, se manifesta no relativo às personagens.
Embora no princípio o enredo possa parecer ligeiramente confuso, uma vez entrando na trama é impossível não se deixar levar e vivenciar realmente a história. O tamanho do livro pode assustar alguns leitores mais preguiçosos, mas para mim foi realmente penoso chegar ao fim da obra, de tal forma me envolvi no retratado; apesar de ter possibilidade, uma vez que a história é verídica, de descobrir o que se passou com as personagens referidas ao longo da obra, queria ter podido descobri-lo através da visão próxima e crítica da narradora, Maria Bolena, e não de forma teórica e muitas vezes enfadonha.
Foi também por esses motivos que resolvi apresentar este texto crítico de forma diferente do que até aqui tinha feito, reunindo várias visões sobre a história de Ana Bolena, muitas delas cruciais para a minha apreciação tão positiva desta obra de Philippa Gregory. Tal como referi, espero que todas elas completem a minha crítica e mostrem, algo que eu provavelmente não conseguirei, o fascínio com que encarei e continuo a encarar esta narrativa.
Não sei se por a história me agradar particularmente, não sei se inteiramente por mérito da autora, não sei se apenas por estar no estado de espírito certo para ler a obra; apenas sei que livros assim valem a pena ser lidos É esta a forma mais indicada de fazer História e livros deste género proporcionam um grande enriquecimento a todos aqueles que têm a sorte de com eles se deparar.
Uma leitura a repetir.

Se tem algum significado, então adquiri-o. Se não significa nada, não importa. Deixai-o. 3

Ana Bolena (para a multidão): E assim eu viro a minha página a este mundo e a todos vós, e peço-vos de todo o meu coração que rezeis por mim. Que o Senhor tenha piedade de mim, a Deus entrego a minha alma.2

O mundo não mudou assim tanto; os homens ainda governam.3

Não posso dizer.
Quando irá isto terminar? 1

Ana Bolena (para Maria): Fui eclipsada. Sou a outra rapariga Bolena.2

Ó morte, embala-me enquanto durmo
Traz o meu descanso silencioso
Deixa o meu muito culpado fantasma
Sair do meu cuidadoso peito.
Faz soar a dolorosa marcha
Deixa-a ecoar e a minha morte anunciar
Eu devo morrer
Não há remédio
Eu devo morrer.[4]



Cátia Soares


[1] Poynter, Dougie, Fletcher, Tom, McFLY (2006), Transylvania, Motion In The Ocean, Universal Records.
[2] The Other Boleyn Girl, Universal Pictures International & Colombia Pictures (s/a, “Memorable quotes for The Other Boleyn Girl (2008), http://www.imdb.com/title/tt0467200/quotes, 30 de Março de 2009)
[3] Gooreads, “Quotes by Philippa Gregory”, http://www.goodreads.com/author/quotes/9987.Philippa_Gregory, 30 de Março de 2009.
[4] Poema alegadamente escrito por Ana Bolena no dia antes da sua execução. Originalmente Oh, Death, Rock Me Asleep. (s/a, “Ana Bolena”, http://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Bolena, 30 de Março de 2009).

Sem comentários:

Enviar um comentário