quarta-feira, 27 de maio de 2009

"A Ilha das Trevas" de José Rodrigues dos Santos

Chegada ao 3º período deste 11º ano e perceber que o final se aproxima, deu me também a vontade de escolher um livre do meu inteiro agrado a fim de relatar a experiência a qualquer pessoa que possa ler. Sendo esta recta final um pouco preenchida e desgastante para todos nós, com o elevado número de trabalhos e testes para fazer, infelizmente e sem darmos conta, são nos roubados alguns momentos de leitura em detrimento do estudo. Contudo, quando se gosta, nós conseguimos arranjar tempo para tudo. Foi exactamente isso que aconteceu comigo enquanto lia este livro.
Primeiramente, foi para mim um grande privilégio ler este livro, uma vez que me foi recomendado pelo próprio autor, José Rodrigues dos Santos, que teve a amabilidade de responder a um email meu, de elogio de outra sua obra (A Vida num Sopro) , recomendando exactamente este romance. Então, depois do entusiasmo de ter recebido um email deste grande jornalista, uma das primeiras coisas que procurei fazer foi adquirir esta obra, para a poder saborear.
Então, como já referi, apesar de bastante atarefada iniciei a minha leitura. E foram extremamente deliciosos estes momentos iniciais de leitura, pois, para além de me descontraíram bastante, retratavam na perfeição uma realidade que idealizo, ou seja, esta obra inicia-se com a preparação de uma operação de jornalismo de guerra a fim de cobrir a invasão da Indonésia ao território, na altura português, de Timor. Assim, esta obra despertou em mim um grande interesse, pois faz uma ponte entre o jornalismo de guerra e uma história que nos é relativamente próxima, as invasões e a guerra de Timor na última década do passado século.
Mas, quanto mais lia, mais eu me descontraía e me interessava por esta obra. Pois, perante este cenário são introduzidas na história personagens adoráveis que espelham as dúvidas, as angústias, as raras alegrias e grande revolta que todo o povo timorense sentiu nesta época.
Paulino da Conceição é o melhor dos retratos que o autor utilizou para demonstrar as mais variadas experiências passadas por este povo. Paulino da Conceição é apenas um dos timorenses que viveu todas as barbaridades que se seguiram à saída dos portugueses de Timor-Leste e foi, sobretudo através dele, dos seus traumas e reflexões, que compreendi as verdadeiras implicações deste acontecimento histórico. Aparece-nos como uma personagem muito humana e verídica, no entanto ele representa todos os sofredores de Timor.
Assim, começam-se a cruzar factos históricos e acontecimentos verídicos com uma realidade deliciosamente ficcionada através de uma bela história de amor. Então, é com a descrição da bela história de amor de Paulino da Conceição e de Esmeralda que este livro começa a ganhar outro interesse e a despertar todas as emoções que possam estar mais sensíveis. De facto, numa fase inicial, esta é uma apaixonante história de amor. E o autor demonstra de facto grande sensibilidade na transmissão de todos os momentos românticos deste casal, deixando o leitor embevecido. No entanto, perante o cenário pouco feliz, a vida deste casal, já com duas crianças, é posta à prova. Esta família passa por uma sucessão de más experiências, que com o avançar do tempo se vão intensificando, destruindo aos poucos a felicidade desta humilde família, que acaba por não aguentar todas as crises por que passa!
É com a intensiva sucessão destes trágicos acontecimentos que assolam a família de Paulino da Conceição, que podemos ligar este livro aos temas do projecto “As 5 portas da Leitura...”. Pois, o leitor ao ler estas consecutivas tragédias que vão desde a fome, terminando mesmo na morte das crianças da família e passando pela separação do casal por uma questão de sobrevivência, insurge-se e deseja que a época e o espaço desta família fossem outros, a fim de viverem uma felicidade plena. De facto, esta família teve o azar de viver nestas circunstâncias, porque talvez se algumas escolhas tivessem sido feitas de outra forma, mais ponderadas, o rumo destas vidas podia ter sido outro. Tal e qual como acontece noutras obras do projecto, como “Os Maias”, pois da mesma forma que se Maria Monforte nunca tivesse ocultado a sobrevivência da sua filha a Afonso da Maia, Carlos e Maria Eduarda jamais cometeriam o trágico incesto; Paulino da Conceição se jamais se tivesse separado de Esmeralda no campo de concentração, as fatais mortes dos seus filhos não teriam acontecido... Mas para além desta ligação trágica, também podemos inserir esta obra na temática do amor, visto que a história deste encantador casal é um relato vivo de amor e paixão constante, mesmo quando se separam...
Uma das coisas que mais me fascinou nesta obra foi o facto de esta parte da história: “a guerra de Timor” ter sido narrada com uma transparência esclarecedora. Digo mesmo, que apesar de nunca ter leccionado esta matéria na disciplina de história, sinto me dentro deste tema e só através da leitura deste livro. De facto, parece nos que este livro transmite, de forma real, objectiva, a história de Timor, tal e qual ela se fez, trata-se mesmo de um rigor jornalístico que marcou este primeiro romance de José Rodrigues dos Santos. Ele que já vem sendo o meu autor favorito! Um livro excelente...


Ana Morais

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