quarta-feira, 27 de maio de 2009

"Visto do Céu" de Alice Sebold


A obra “Visto do céu”, título original “The lovely Bones”, de Alice Sebold, gira em torno do espírito de Susie Salmon que foi violada e assassinada, levando algum tempo até se desprender da vida terrena, complementada por relatos da sua passada e “nova” vida.
Procurava, na biblioteca escolar, um livro para ler, um livro que fosse especial, que me suscitasse interesse, que fosse de encontro àquilo que sentia na altura…quando, de repente, me deparei com o título “Visto do Céu” no meio de tantos na estante. Peguei nele de imediato. Deu-me a sensação de ter lido o livro naquele instante, no primeiro contacto com o seu título. Não precisei de procurar mais, requisitei-o logo.
A obra é um romance de fácil leitura, muito objectiva e compreensiva, com uma tradução muito bem-feita pelo tradutor Ribeiro da Fonseca. Não se pode dizer que é uma obra muito “movimentada”, é até um pouco parada, narrada na primeira pessoa, relatando experiências passadas e presentes da personagem, sentimentos, o quotidiano das outras personagens, tal como eu gosto! Pois só gosto de um grupo muito restrito de livros, filmes ou séries televisivas em que haja muita acção.
Na altura em que requisitei e comecei a ler o “Visto do céu”, andava numa fase em que me surgiam questões que todos já tivemos alguma vez na vida: “Como seria se eu morresse? Como reagiriam as pessoas de quem eu gosto? Será que há vida depois da morte? Como será depois de morrer? Será que a minha morte iria ser indiferente para aqueles que dizem que me amam ou sentiriam a minha falta?”, enfim… questões que todos nós colocamos a nós próprios em qualquer momento da nossa vida. Por coincidência ou não, este livro foi como que um exemplo de resposta às minhas questões, a experiência de alguém na primeira pessoa, pois, a personagem principal é o espírito, como já referi, de Susie, violada e assassinada por um violador e que, depois de morta, relata a forma como morreu, como é a vida dela depois da morte, como reagiram aqueles que ela mais amava à sua morte, as suas experiências, desejos como um espírito…
Eu acredito convictamente que há vida após a morte! Pois, se não houvesse, a nossa existência terrena não faria qualquer sentido. Seria algo muito limitado nascer - crescer – morrer e parou por aí… Não… Eu penso que nós somos mais que isso, que não estamos aqui, na Terra, apenas por estar, mas sim, porque nascemos por algum motivo, para fazer alguma coisa, para alguém… Há quem chame destino, há quem chame missões terrenas, mas nenhum de nós está aqui por estar, embora, por vezes, pareça que sim. Não é à toa que somos todos diferentes, cada um de nós tem um lugarzinho, uma motivação, um sentimento, mal ou bem marcamos a diferença. Eu acredito que a alma é imortal e única, que é o espírito que comanda o nosso corpo físico e não o contrário e, sim, acredito que estamos rodeados de espíritos que já morreram. Ninguém tem a certeza de nada, é certo. Mas esta é daquelas certezas que tenho porque se sentem, com todos os sentidos e que, no fundo, todos sentem, mas ignoram. Porque é impossível não sentir, uns mais outros menos. Para mim, a vida terrena não é mais que uma simples passagem de muitas passagens que ainda teremos de seguir, por isso se diz que a devemos aproveitar e que a vida é só dois dias…
Esta obra, para mim, exprime algo muito real e mais vulgar que o vulgar e, em suma, fica esta passagem que me despertou um interesse especial e, para mim, é a passagem mais importante de toda a obra:

“ Vi a minha família beber champanhe e pensei na vida deles em relação à minha morte, e depois percebi, quando o Samuel tomou a ousada iniciativa de beijar a Lindsey numa sala cheia de pessoas de família, que finalmente se libertavam dela.
Aqueles eram os fascinantes ossos que tinham crescido em volta da minha ausência: as ligações – umas vezes ténues, outras conseguidas a grande custo, mas muitas vezes magníficas – estabelecidas depois da minha partida. E comecei a ver as coisas de uma maneira que me permitiu encarar o mundo sem mim. Os acontecimentos provocados pela minha morte não passavam dos ossos de um corpo que se tornaria completo numa ocasião imprevisível no futuro. O preço do que eu acabei por considerar esse corpo miraculoso fora a minha vida.” págs.: 256/7


Cristina Lopes

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