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Sob o palco da cidade eterna, Roma, as personagens envolvem-se num carrossel de emoções e relações convergentes; da romântica Laura, a musa ingénua e idealista, ao romântico e talentoso Bruno, passando por Tommaso, o típico homem comum, todos se modelam e transformam de forma impressionante ao longo da acção. Embora o final seja o mais esperado, a história evolui de tal forma que é impossível prever o rumo que cada uma das tramas vai tomar, cruzando-se e separando-se de forma tão intrínseca mas, ao mesmo tempo, tão sustentada, que nos leva a ficar presos à leitura.
Os pratos típicos da cozinha italiana misturam-se com as inovações culinárias, deixando-nos quase que deliciados apenas com a descrição dos cheiros e sabores que vão sendo aprimorados ao longo da obra.
Como em tudo, há alguns pequenos senãos: a exaustiva descrição dos pratos a confeccionar, embora forneça todo um novo ponto de vista sobre a arte de cozinhar, torna-se por vezes um pouco aborrecida, principalmente porque nos faz ansiar por provar tais pratos e (infelizmente) os livros ainda não desenvolveram a capacidade de transmitir aromas, deixando assim à nossa imaginação reproduzir os fantasiosos cheiros descritos e deixar-nos com água na boca.
Mas não só neste facto a leitura deste livro se torna um pouco frustrante; também o assistir, impotente, ao desenrolar das acções numa quase previsível teia de encontros e reencontros, torna-o, por vezes, ligeiramente entediante.
Não penso que isto seja, no entanto, uma crítica negativa tão grave. Actualmente é difícil ser original, com a enorme difusão de informação e as mentes ávidas dos leitores, qualquer caminho que o autor escolha será sempre uma possibilidade já repensada. E Capella conseguiu algumas reviravoltas bastante interessantes ao longo desta trama, isso é inegável.
Ao longo da obra, existe uma quase vontade a “abanar” o passivo Bruno, que contar a verdade à inocente Laura e de maldizer o pretensioso Tommaso; mas mais do que um aspecto negativo, isto só indica a capacidade que o autor teve para nos transportar para dentro da obra, para nos fazer senti-la como se fosse nossa.
Penso que é aí que reside a grande vitória do autor, ou talvez da história: no retratar “realidades reais”, não “cor-de-rosa” ou amenizadas, no fazer-nos crer que nem tudo é o que parece e há sempre algo a mais para além do que julgávamos possível. O importante é acreditar.
Cátia Soares
[1]CAPELLA, Anthony, Receitas de Amor (2005), Lisboa, ASA Editores, p.5.
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