segunda-feira, 16 de março de 2009

"A Vida num sopro" de José Rodrigues dos Santos

O livro A Vida num sopro foi, até ao momento, o livro que, sem dúvida, maior prazer me ofereceu sempre que desfrutava da sua leitura. Com toda a certeza, posso afirmar que nos momentos ocupados a desfrutar uma lindíssima história de amor, tantas vezes condicionados por situações tão banais e tão quotidianas, mas que se revelarão fatídicas para o desencadeamento de um final feliz, eu dava por mim quase a entrar na história, como se mais uma personagem fosse.
Sendo esta uma história de amor, poderíamos pensar e tentar adivinhar o desenrolar da relação ou, até mesmo, como a mesma terminaria. Porém, com este livro, tudo é diferente. O desenrolar da obra vai se tornando cada vez mas surpreendente, alterando-se inesperadamente com o aparecimento de situações exteriores, e que se revelam fundamentais para o romance de Luís Afonso e Ana Amélia.
Este romance cinematográfico tem a pouca sorte de acontecer numa sociedade conservadora e cheia de pudores, influenciada por “a moda” dos regimes ditatoriais do séc. XX, sobretudo na Europa Ocidental. Este infortúnio do casal, apaixonado desde os tempos de adolescentes, vai-se revelar fatal para o desfecho das suas vidas, inteiramente controlado por factos exteriores, deixando que as vidas deste casal fujam ao seu controle, tornando-os, quase, como meros espectadores dos acontecimentos infelizes que a vida inoportunamente lhes ofereceu.
Toda esta catastrófica ideia do “estar no local errado, à hora errada”, vai se revelar fatídica para o fim da relação dos dois amantes, dando origem ao final negro e trágico que evidencia o lado nefasto dos regimes ditatoriais, que à custa dos seus caprichos nacionalistas, fizeram vítimas, tantas pessoas inocentes que, talvez em outra época, poderiam ter vivido uma linda história de amor como tantas outras.
Relativamente ao tempo de leitura, confesso que li este romance de rajada, embrenhei-me na história como há muito não acontecia, daí que tenha lido em pouco tempo um livro com aproximadamente 700 páginas.
As provas de que eu verdadeiramente fiquei apaixonada por esta história, foram as minhas reacções a momentos específicos da leitura, a saber, dei por mim a ler à gargalhada com as discussões políticas entre Luís e o seu amigo Fernando; ficava embevecida com os passeios românticos de Amélia e a sua cara-metade; barafustei impacientemente com a intransigência da PVDE e quando pensava que nada mais me surpreenderia, o desenlace trágico desta história emocionou-me (eu que até então não me emocionava com ficção!).
Esta obra, A Vida num sopro de José Rodrigues dos Santos, enquadra-se nos temas do Projecto As Cinco Portas da Leitura, visto que, semelhantemente à obra Os Maias de Eça de Queirós, se revela um romance trágico.
Mas, para além deste elemento em comum, eu concluí que para me ter interessado tanto por esta história, ao ler, tive que envolver todos os sentidos. Pois, só através da visão mental dos passeios matinais dos dois apaixonados, através da imaginação do cheiro da feijoada da pensão ou da audição ideal dos espectáculos do Parque Mayer… foi possível estimar toda esta história, que sem dúvida permanecerá na minha memória por um longo período de tempo.

Ana Morais

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