domingo, 15 de março de 2009

Texto crítico – Sermão de Santo António aos Peixes

Confesso que fiquei bastante surpreendida com todo o sermão, pois esperava que fosse uma coisa mais maçadora (devido à época em que foi escrito). Mas parece que estava enganada! Surpreendi-me!
Principalmente devido à perspicácia e inteligência do Padre António Vieira em falar aos peixes a fim de atingir toda a classe humana, pretendendo que esta reconhecesse os seus erros e pecados, podendo melhorar, tornando assim o mundo um local muito mais justo…
Apesar de ter gostado do sermão no geral, foram duas as passagens que mais me surpreenderam:
A 1ª: “Ao menos tem os peixes duas boas calidades de ouvintes: ouvem, e não falam. Uma só cousa pudera desconsolar o Pregador, que é serem gente os peixes, que se não há de converter. Mas esta dor é tão ordinária, que já pelo costume quasi se não sente…”
(Cap. II, ls 1 a 4)

O Padre António, como já referi, falava aos peixes, mas pretendia criticar os Homens, ou seja, é um sermão alegórico. Mas ele considera os peixes bons ouvintes, muito melhores que os ouvintes humanos. Uma vez que estes ouviam e calavam, enquanto as pessoas, mesmo antes de terminarem de ouvir, já estão a criticar, a tecer opiniões…, não dando oportunidade ao Pregador de acabar a sua tese, de usar os argumentos adequados à situação, não deixando exemplificar com situações concretas para ser de mais fácil compreensão…
Actualmente, o ouvinte já só está preparado para ouvir aquilo que lhe interessa, que provavelmente lhe agradará. Ouve assuntos de acordo com o seu estatuto, com a sua profissão, com os seus passatempos favoritos… Não está preparado para ouvir profundas dissertações sobre os valores morais, por exemplo. Ou, então, não está tão disposto a ouvir todos os problemas que o mundo tem (fome, pobreza, guerra, conflitos religiosos…) e propor possíveis soluções, como está tão pronto para ouvir um relato de futebol e discuti-lo com um grupo de amigos…
Estes exemplos que mostram que os ouvintes humanos na maioria das vezes não ouvem o Pregador, só provam que o Sermão do Padre António Vieira ainda se mantém intemporal. E que os maus costumes que os Homens ouvintes têm de não prestar atenção ao Pregador é uma constante na Sociedade e, provavelmente, sempre o será!

A 2ª: “Não estendeu as asas para subir, encolheu-as para descer…”
(Cap. V, l.171)

Ao longo de todo Sermão é notório um constante elogio a St. António, tornando-o um exemplo para todos os Homens. Este elogio é realçado no Capítulo V, pois o Padre Vieira, refere que Santo António era bastante humilde, apesar de ter bastantes conhecimentos e ser um homem muito experiente, não usou isso para se beneficiar de maneira alguma. St. António foi humilde e guardou esses conhecimentos para si, a fim de viver uma vida humilde e honesta…
Nas sociedades actuais, cada vez mais competitivas, apenas, um escasso número de pessoas é que “encolhem as asas para descer”, na sua maioria, as pessoas sempre que podem “estendem as asas para subir”. É uma questão de sobrevivência.
Perante o cenário de dificuldades actuais, a população necessita de qualquer conhecimento que marca a diferença, ou interessa-se pela mais pequena experiência. Pois todas estas pequenas coisas, permitem “o estender das asas”, facilitam a ascensão a altos voos, por exemplo, profissionais.
Na minha opinião, esta ascensão é positiva, pois necessitamos de ambição, de garra para realizar os nossos objectivos, alcançar os nossos sonhos. Pois só conseguimos isso, se utilizarmos todas as armas que temos que nos permitam “estender as asas para subir”…
É necessário é que essa ambição e esse garra, não sejam levadas ao extremo, porque isso é prejudicial para o ser humano. Já se diz há muito: “Quem tudo quer, tudo perde!”.
Temos que ter destreza suficiente para perceber quando já não é possível subir mais e resta-nos apenas descer. O que pode ser bom, uma vez que é um reconhecimento de humildade (um valor em falta nas sociedades actuais)!...

Ana Morais

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