domingo, 15 de março de 2009

Sermão de um crente a um padre


Deixados para trás


I


Diga-me, Excelentíssimo Reverendo, o que sabeis vós da vida? O que sabeis vós acerca dos problemas dos crentes antagónicos à Igreja? Que direito tendes vós de julgar aqueles que, de certo modo, são obrigados a violar as leis da Igreja? Pois bem, não foi Jesus Cristo que disse "Quem nunca errou que atire a primeira pedra"? Sendo assim, porque criticais tanto, sem saber verdadeiramente quais as razões que nos levam a tomar certas decisões que podem mudar, na nossa perspectiva, a nossa vida para melhor?
Por mais que queiramos tentar seguir todos os valores da Igreja, nem sempre nos é possível, porque a vida nos prega partidas, por vezes, impossíveis de resolver, de acordo com os nossos valores cristãos. Existem situações na nossa vida que nos obrigam a questionar profundamente as leis que a Igreja nos impõe, vendo-nos obrigados a desobedecer-lhes.
Senhor Padre…Quereis vós que numa relação conjugal haja desrespeito, violência, infidelidade, sentimentos impuros e que esta permaneça conjunta? Não considerais isso uma hipocrisia? Não achais que uma vida predestinada ao sofrimento, à luta, não mereça ser poupada? Não achais que é cruel e desumano, obrigar alguém a viver, sem que a vida desta seja digna? Achais correcto que haja milhares e milhares de crianças a morrer à fome todos os santos dias?
Achais de valor deixá-los para trás?



II



Como crente em Deus que sou, que sigo da melhor maneira todos os valores cristãos, tento sempre me aperfeiçoar, tentando ser, sempre que me possível, solidária com os outros, ajudo quem posso no que posso, tento ser boa filha, estudante, amiga, pessoa, cidadã; procuro e encontro em Deus a salvação, acredito ferozmente na sua existência, recorro-lhe sempre, tanto para agradecer, como para pedir ou ralhar ou desabafar ou para chorar ou para rir… vejo-o como o meu melhor amigo e acho que o conheço razoavelmente para afirmar, Sr. Padre, que Deus quer e insiste na nossa felicidade. E sei, pelo que sinto, pelo que vejo, que tudo o que nos acontece é para a nossa felicidade, até o sofrimento! Por isso, Sr. Padre, tendo em conta tudo o que nos prega, os meus sentimentos relativamente a Deus, todos os seus ensinamentos e palavras, tudo aquilo que Deus me mostra, eu vejo que Ele quer o nosso bem e apenas o nosso bem.
Por que há-de a Igreja ser contra a felicidade das pessoas? Pois, veja bem, Sr. Padre, o divórcio é para o bem das pessoas e para a felicidade. Não é pecado amar outra pessoa, não é pecado fazer a escolha errada, não é pecado cometermos erros, não é pecado descobrirmos que não amamos daquela maneira ou que não nos damos bem. Pecado é fazermos alguém infeliz, tratando mal, humilhando, enganando, traindo, só por dinheiro ou por outra razão qualquer a não ser o amor. Acho, muito sinceramente, que Deus Nosso Senhor, prefere que alguém corrija os seus erros, seja leal, verdadeiro e humilde e admita os seus erros. Pois Deus não considera um verdadeiro casamento se houver traições, violência, ofensas, interesses, ódio. Casamento é amor, lealdade, fidelidade, sexo com amor, uno, carinho, amizade… e se não houver nada disto, o casamento nunca será consumado aos olhos de Deus. “Não separe o Homem aquilo que Deus uniu”- acha que Deus une as pessoas que não amam ou que não têm a certeza ou estão confundidos? Deus sabe quem ama e quem não ama, então apenas ele pode unir. Não é num casamento em frente ao Padre, a dizer e a prometer palavras bonitas que um casal é unido. Deus une alguém, quando essas palavras são verdadeiras e sentidas, apenas aí. Concorda que alguém passe maior parte da sua vida a sofrer de humilhações, maus tratos, violações de todos os tipos? O casal sofre, os filhos sofrem, esses pobres inocentes crescem em ambientes que são tudo menos familiares e propícios para uma boa formação. Que direito tendes vós de proibir as pessoas divorciadas de tomarem a comunhão ou de serem padrinhos? Só Deus poderá julgar seja quem for! Talvez aqueles que são considerados os verdadeiros cristãos aos seus olhos, sejam aqueles que mais pecam e que menos merecem as regalias da Igreja…
Gostais muito de julgar o que não conheceis e criticar. Então, nem comento! Como o aborto… estais certo quando dizeis que é injusto matar vidas humanas. Eu concordo. Mas, vende bem… uma criança não pode sofrer pelo abandono dos pais, pela sua falta de amor, irresponsabilidades, impossibilidades económicas. Tenho a certeza que todas as mães que abortam nunca seriam boas mães, nem nunca dariam aos seus filhos aquilo que precisassem. Às vezes, as coisas não são o que parecem e só Deus sabe o sofrimento de muitas não poderem ter aquele filho. A vida não é fácil, nunca foi e está cada vez mais difícil. É muito difícil criar alguém, dar amor, carinho, felicidade, proporcionar as necessidades básicas, quando não se é amado, não se é feliz, quando não se tem nada, quando ainda não se é completamente maduro, crescido, consciente.
Depois, também não compreendo, não concordais com o aborto, mas também não concordais com o uso de métodos contraceptivos. Diga-me o que é melhor, matar ou prevenir uma morte? Corre-se vários riscos quando não usamos métodos contraceptivos, nos quais não está apenas o risco de engravidar. Estão, também, as várias doenças sexualmente transmissíveis, em que uma delas nem tem cura -SIDA. Ninguém tem culpa dos erros dos outros, por isso, não pode sair prejudicado, pois Deus não gosta de injustiças e é muito injusto quando alguém, na sua bondade e humildade (e ignorância), confia em outrem, acabando por contrair consequências desastrosas. Usar métodos contraceptivos não é pecado, repare que no tempo de Jesus Cristo nem tais coisas existiam e se a verdadeira doutrina e religião é aquela que é ditada por Deus e só por Deus, não pelo Homem, não existe nenhuma passagem na Bíblia que contrarie o uso de métodos contraceptivos, nem pode haver, porque ser inteligente e prevenir futuras consequências tristes e abaláveis não é nem nunca foi pecado. Pois Deus Nosso Senhor é um Ser Generoso, Amigo, Compreensivo, é infinita a sua bondade e não é tolo, pois é dotado de toda a inteligência, apenas Ele sabe tudo, logo nunca poderia discordar de algo que os humanos descobriram para evitar possíveis aborrecimentos, asneiras e pecados.
Como crente que sou, falo com Deus e sinto que quando eu estou triste, ele também está e vejo que, até quando sou eu que erro, Deus diz-me sempre para continuar e para não tornar a fazer o mesmo, eu oiço a sua voz, cá dentro. Sinto que o conheço suficientemente e acho que para afirmar tudo isto é preciso conhecer Deus e sinto que Ele concorda com aquilo que digo. Quero dizer com isto que eu não falo à toa! Eu conheço e convivo com a sociedade e com a vida real e sei que para julgar tem de se ver todos os lados da questão, conhecer as razões, concordar e discordar e saber o porquê muito bem sabido e, finalmente, argumentar.



III

Criticais sem saber porquê e o quê. Não conheceis a verdade, não sabeis nada da vida. Experimentai sair um bocadinho, falar e socializar com pessoas, principalmente com aquelas que sofrem, conheça as suas razões, discuta esses problemas, depois responda-me se concordais com o que digo ou não.
Mais uma vez repito que a vida não é fácil e só Deus conhece todos os lados de certas decisões que tomamos e cabe apenas a ele julgar. As opiniões dos Homens nada valem quando os argumentos são reproduzidos por eles mesmos, no que diz respeito à nossa religião. Não há nada na Bíblia (o livro sagrado ditado por Deus) que discorde de tudo aquilo que referi e, muito menos, que apoie a discriminação. Somos todos filhos de Deus e todos são iguais aos olhos de Deus. As boas acções fazem um cristão e, por isso, se quer pregar a verdadeira doutrina, terá que interpretar melhor a Bíblia, as pessoas e a vida. Tem também que conhecer e conversar com Deus, pois ele tem muita coisa a ensinar-lhe que o senhor ainda não descobriu. Oiça o seu coração, apele à sua generosidade e bondade, marque a diferença e Deus gostará mais, disso eu tenho a certeza. E assim acabo este meu pobre discurso, pedindo-lhe sinceramente para reflectir sobre aquilo que me debrucei e, por favor, lembre-se sempre daquilo que o próprio Deus em carne e osso afirmou: “Quem nunca errou que atire a primeira pedra”.



Trabalho realizado por:
Ana Luísa
Cristina Lopes
Inês Pinto

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